Tuca Zamagna
APONTAMENTOS MULTIDIRECIONAIS
PARA DESINVENTAR MINHA
SOLIDÃO
I
– Sem fragrância
Tu eras tão viva...
mais que viva, a vida
e eu te sabia para sempre viva
mesmo que o fim te escolhesse.
Como então estás morta?
como então estou vivo?
ou será que morri sem sentir
por não sentir, quando te vi
passando por mim, exalares
qualquer fragrância de vida?
II
– Escrito em sangue
Pela devassa insônia
com que ela mumifica-me
a alma prenhe de madrugadas
num rondó que costura
cem mil vindouros séculos
de faraônica tecitura;
Por descaminhos turvos
que meus despojos trilham
quando a mais breve ausência
sua deflagra a febril, agônica
degeneração por abstinência,
Meu coração dispara –
desde que do cerne dela vim –
o verbo escrito em sangue:
sou tudo em ti, nada mais em mim.
III – Poesia, o
Amor a lê?
Ao vento lançamos de louça em pétalas
asas diabéticas de açucareiros
melados de entremeio ao fogo excelso
quem sabe zé celso de orgasmos murchos
gorduchos tangarás dançando em visgo.
Luziste em meu sangue como um semáforo
histérico surtado zumbi verde
a furtar vermelho até do amarelo
e pôr sela ao mangalho e transfugir
perua a rir do ganso mal afogado.
Cantava-te em versos que nunca lias
mas ouvir bem esfingias com deleite
(dente por dente lei no meu pescoço
olho por olho Talião é o caralho)
qual burocrata descaracolando
sob tensa avalanche de uivos asmáticos
durex em meus astrolábios sem vírgulas:
“Banhei-te em
rios de begônias e tu
eras toda uma
empada de bigornas
e enquanto mole
eu chupava feliz
teu nariz
escorrendo do meu olho
sinistro cocho de
teus falsos estros
a mim me fizeste
pirarucu
do teu baú de
deuses entupido.
“E questionar-te
temi por que a fronha
azul medonha
ainda envolvia o diálogo
monofásico com
teus pares ímpares
(como indígenas
prepúcios em anjos
ou sacis de
tamanco descasados)
e nesses casos
por isso é que calo
que me dói eu
falo ou logo adeus digo.”
... Que pena que pena ah que pena que
ela já não é mais a m’nha pequena
mas eu gosto dela benjor assim
minúsculo espinho entre as flores secas
do palacete de entranhas expostas
onde da bosta vindo fui viver
ó verde que amarelo é atemporal...
!!!Agora me há mal se eu não quebrar sim
o seu sem fim silêncio paleolítico
e do anímico âmbar recolher
meu ser que em sua carne não fez sentido
enquanto o meu sentido era a sua carne!!!
???Depois renascer será como um morto
absorto em sua fútil febre glacial
e em sua calma espera pelas minhocas
que o irão em pó pespeidar no universo
de novos versos que o Amor não lerá???